Como um circo, o Barcelona à brasileira é um clube nômade. Em menos de dez anos de existência, funcionou em Jacarepaguá, Vargem Grande e Deodoro, bairros da Zona Oeste do Rio, além de ter "estendido a sua tenda" em Cachoeiras de Macacu, interior do estado fluminense. Mas essas mudanças de endereço estão com os dias contados.

Não que o Barça tupiniquim esteja nadando em dinheiro. Porém, o primo pobre do Futbol Club Barcelona, da Espanha, entrou com um processo na Fifa reivindicando uma parcela do mecanismo de solidariedade referente à transferência do zagueiro Thiago Silva do Tombense para o Milan. É o que conta o advogado do clube carioca, Alberto Macedo. - Estamos aguardando a CBF emitir o passaporte do jogador (histórico do atleta). Com este documento, entraremos com uma representação na Fifa. Mas o Milan já foi notificado e deve ter separado o dinheiro que pertence ao Barcelona – confirmou.

O ex-zagueiro do Fluminense, que tinha os direitos econômicos pertencentes ao Tombense e a um grupo de portugueses, foi vendido ao clube italiano por 9,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 25 milhões na época) no fim do ano passado. No entanto, ele jogou pelos juniores e profissionais do Barcelona Esporte Clube por um ano - de novembro de 2000 a novembro de 2001-, como consta em documento reconhecido pela Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj).

De acordo com o artigo 21º do Estatuto de Transferência de Jogadores, qualquer clube que tenha contribuído para a educação e a formação de um atleta deve receber uma percentagem da compensação paga ao clube anterior. - O Milan já pagou a primeira parcela do mecanismo de solidariedade ao Juventude, Porto (Portugal), Fluminense e RS Futebol. E também terá de ressarcir o Barcelona, já que a CBF também reconheceu este clube como formador do jogador – afirmou o advogado de Thiago Silva, Marcos Motta.

Além do alívio financeiro, o vice-presidente do Barcelona sonha alto. Segundo Augusto Vieira, o Barça genérico tem tudo para se tornar uma filial do homônimo original. - Fui à Espanha em 2004 e aproveitei para conversar com alguns dirigentes do Barcelona. Eles acenaram com a possibilidade de nós virarmos uma filial no Brasil, mas isso só poderia acontecer se nós tivéssemos uma sede própria. Os espanhóis deixaram claro que não pretendiam investir em um clube que não tinha endereço fixo – lembrou o dirigente.

Apesar de torcer pelo sucesso do pupilo Thiago Silva, Augusto Vieira confessa que pretende ver o zagueiro defendendo outros clubes - além do Milan. E, embora seja vascaíno e tenha assistido a vários jogos do Fluminense no ano passado, não engrossou o coro de “Fica, Thiago” – grito que ecoava constantemente no Maracanã, nas partidas do Tricolor das Laranjeiras.

- Acho que eu fui um dos poucos fãs do Thiago Silva que ficaram chateados por ele não ter se transferido para a Inglaterra, antes da proposta do Milan. Quanto mais ele rodar, melhor para a gente – brinca.

Assim com o São Cristóvão tira uma casquinha da fama do atacante Ronaldo - como clube revelador do Fenômeno -, o Barcelona pretende se autointitular criador do "Monstro". No entanto, por enquanto, o único “patrimônio” do Barça carioca é um campo arrendado por R$ 1.000 ao mês na Vila Militar, em Deodoro, Zona Oeste do Rio. Em meio a cabritos, é ali que uma equipe de juniores treina para representar o time na Terceira Divisão do Estadual.

- Se o campeonato terminasse hoje, estaríamos classificados para a Segundona. Em três rodadas, temos uma vitória, um empate e uma derrota. E olha que, como não dispomos de estádio, mandamos nossos jogos no campo do Mesquita – analisou o vice-presidente do clube.

Além do poderio financeiro, outra diferença do Barça carioca para o gringo está no escudo.

- Nosso estudo tem um desenho do Pão de Açúcar e da bandeira do Brasil, enquanto no deles há uma cruz no lado esquerdo e as cores da Espanha à direita – comparou Augusto Vieira. Barça genérico é sustentado por oito sócios

A folha do Barcelona Esporte Clube varia de R$ 15 mil a R$ 25 mil - quando o clube está disputando alguma competição. O time é bancado por um grupo de oito amigos que dividem igualmente os custos. O único patrocinador não injeta dinheiro no clube. Trata-se de uma empresa de planos de saúde que apenas empresta ambulâncias nos dias de jogos. Todos os 30 jogadores que estão inscritos na Terceira Divisão do Carioca têm idade de juniores e recebem um salário mínimo (R$ 465). Ano após ano, a equipe se "reinventa" com uma nova leva de jovens que ainda não se profissionalizaram. Estes jovens recebem camisa, short, chuteira e almoço nos dias de jogos. Quer dizer, os garotos se alimentam mesmo é do sonho de um dia vingar no futebol como o parâmetro Thiago Silva.

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